A cada cem idosos que tomam remédios regularmente, 44 seguem receitas com medicamentos considerados inadequados para eles.
É o que diz estudo do farmacêutico André de Oliveira Baldon feito para a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP. Ele ouviu mil idosos atendidos pelo SUS e analisou receitas de novembro de 2008 a maio de 2009, em Ribeirão Preto, interior de SP.
O número é muito maior do que o constatado em países como a Itália, onde 26% dos idosos não internados tomam medicamentos inadequados, e EUA (10%).
A pesquisa mostra que a falta de conhecimento do médico ou farmacêutico e a lista restrita de opções de medicamentos são as principais causas do problema. A lista de remédios em hospitais e postos que atendem pelo SUS é muito restrita, diz Baldoni. Assim, os médicos prescrevem o disponível, sem observar se pode ou não ser usado por idoso. Um antialérgico, por exemplo, pode aumentar a sonolência no paciente. Estudos provam que essa reação aumenta o risco de queda e fratura óssea.
O ideal seria prescrever um antialérgico de segunda geração, menos forte, raramente encontrado no SUS.
O levantamento mostrou ainda que 30,9% dos idosos tomam remédios por conta própria; 37,1% não usam os remédios conforme prescritos e 46,2% relatam reações adversas aos medicamentos.
INTERNADOS
A situação é mais grave quando se trata de idosos internados, mostra estudo feito três anos atrás pela farmacêutica Juliana Locatelli, especialista em gerontologia do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Entre os 155 idosos entrevistados, foram identificadas quatro interações medicamentosas para cada paciente (quando o uso de vários remédios causa risco). O efeito mais observado foi o aumento de risco de hemorragia.
"O tratamento com idosos deve ser diferenciado. As doses devem sempre começar em quantidades mais baixas. O organismo dessas pessoas pode ser mais debilitado e cada um reage de uma maneira aos remédios", diz Locatelli.
O objetivo do estudo, segundo ela, foi comparar a realidade com outros países. "É uma tendência que haja esse número elevado entre internados. Temos perspectivas de colocar em prática ações para melhorar a situação, mas ainda não foi feito."
Outro trabalho de 2007, na Santa Casa de SP, mostrou que 41% dos idosos tomam drogas inadequadas ou em doses excessivas. Segundo o estudo da USP, 16,3% dos que retiraram remédios pelo SUS não recebem orientação sobre uso.
OUTRO LADO
O Ministério da Saúde afirmou que a pesquisa mostrando a inadequação dos remédios ministrados para idosos foi feita com apenas mil pessoas, de um universo de 21 milhões de brasileiros com idade acima de 60, ou seja, o estudo abrange 0,005% da população idosa do país.
Além disso, segundo a assessoria de imprensa, a pesquisa foi realizada em apenas um dos 5.565 municípios do país e é preciso avaliar e questionar, com cuidado, sua representatividade.
Ainda de acordo com a assessoria, o SUS oferece gratuitamente aos brasileiros uma relação de 340 medicamentos essenciais.
"O Programa Nacional de Formação de Cuidadores de Idosos, criado em 2006 e oferecido em escolas técnicas do SUS, já formou 1.500 profissionais para cuidar de pessoas acima de 60 anos".
Já a secretária-adjunta da Saúde de Ribeirão Preto, Darlene Mestriner, afirma que 50% dos idosos do mundo inteiro fazem uso inadequado de medicamentos pelo menos uma vez na vida. Segundo ela, o número apresentado pela pesquisa está dentro dos parâmetros aceitáveis.
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